terça-feira, 27 de maio de 2008


* - FRUSTRAÇÃO - *

A chuva no seu ritmo constante,
num desafogo total,
debruça-se sobre a terra.
Só, em meio á escuridão,
perambulo pelo meu quarto,
ora escutando a melodia triste,
que se desprende do gotejar contínuo...
Ora vasculhando através da vidraça,
a noite fria, o céu,
onde parece abrigar-se toda a mágoa,
toda a tristeza do mundo.


Nem uma estrela, nem uma réstia de luz
a romper as trevas assustadoras.
O tique-taque do relógio,
no seu ritmo dolente,
faz despertar-me amargas recordações,
de um passado,
que de todo não morreu...


Intensa angústia
apossa-se de meu coração,
como se um vulto de alguém,
saído das trevas,
o espezinhasse cruelmente,
até se entranhar na carne,
vendo-a por fim, sangrar...


As lágrimas ardentes, deslizam.
Deslizam e encontram-se nos lábios
onde depositam amargo sabor;
sabor de coisas perdidas,
de uma felicidade,
que não mais há de voltar...


LEINECY PEREIRA DORNELES
CASSINO- RIO GRANDE - RSUL



* - CAMINHO SÓ! - *

Caminho...
Mas bem sei, que meus passos,
não vão dar a parte alguma...
Falo, e minhas palavras,
parecem-me horrivelmente ôcas,
pois só as podem escutar,
bem sei, ouvidos de carne,
e, não as almas vivas,
altas demais,
e por demais longínquas...


Até as idéias se furtam ...
Custa-me pensar,
as palavras,
ás vezes escapam e não querem
mais servir...
Balbucio, me atrapalho, enrubeço,
e sou ridícula,
tenho vergonha os outros vão perceber.


Será que estou ficando louca?
Ou és tu, que queres isto?
Mas não seria nada,
se não estivesse só.
Estou só!
Arrastaste-me para longe,
confiei! Eu te segui,
mas por poucos momentos,
caminhaste ao meu lado.


E éis que, em pleno deserto,
em plena noite,
bruscamente desapareces,
e eu caminho,
só!


LEINECY PEREIRA DORNELES
CASSINO- RIO GRANDE-RSUL


* - ESTÁS AÍ, EM MINHA NOITE ? - *

É noite...
Será que estás aí, em minha noite?
A luz se apagou e, seu clarão,
nos homens e nas coisas, desapareceu.
E tudo me parece cinzento e,
tudo me parece sombrio...
Tal como a natureza,
quando o nevoeiro empana o sol,
e, encobre a terra...


Tudo me custa, tudo me pesa...
Sinto-me lenta,
ao despertar, a manhã me oprime,
pois ela me mostra,
mais um dia.
Tenho pressa de desaparecer,
invejo a morte,
como um esquecimento.


Quisera partir,
evadir-me, fugir,
para qualquer lugar.
Escapar...
Mas escapar a quê?
A ti, aos outros, a mim, não sei...


Mas partir, fugir...
Avanço como um ébrio,
empurrada pela rotina, sem saber,
repito a cada dia os mesmos gestos,
sei, porém, que são inúteis...


Chamo e não respondes,
procuro, e não te encontro...
Tudo abandonei, tudo traí...
Pois bem sabes,
que nem em pensamentos,
nunca isto aceitei.


Agora, vejo-me só...
Tua ausência é meu tormento
É noite, agora,
Estás aí em minha noite?
Onde estás?
Amas-me, ainda ?
Não te deixei para trás ?
Responde-me !
ESTÁS AÍ, EM MINHA NOITE ?


LEINECY PEREIRA DORNELES
CASSINO- RIO GRANDE-RSUL





* - EU QUERIA... - *

Hoje eu queria fugir...
Da rotina a que estou presa.
Queria penetrar nas águas verdes do mar,
nas matas densas,
em busca de um caminho,
que a nada me conduzisse.
Queria apenas sentir o cheiro das folhas,
e da terra úmida...


Hoje eu queria ver a água
escorrer de chafarizes,
caindo em lagos,
que abrigassem peixes vermelhos e travessos.
Lembras?
Chafarizes... lagos... peixes vermelhos.
Sim... Hoje eu queria fugir...
Queria fugir...
Sair de mim mesma, por aí,
vagando a esmo,
sem uma diretriz precisa,
apenas à cata de um sonho.


Queria ver um raio de luz nas trevas,
ouvir uma voz cantando uma canção.
Canções que não foram terminadas por ti,
uma canção esquecida, fragmetada, perdida,
perdida sim, em seu próprio eco...


Ah! Como eu queria...
Queria ouvir o barulho da chuva,
da chuva nas vidraças,
os passos... De alguém...
que sempre estará presente no meu coração,
e quem sabe nunca virá...


Como eu queria...
Ver fohas caindo em lento abandono,
Queria ouvir um arroio cantando,
Hoje eu queria a paz perdida,
na guerra,
na confusão dos dias,
na infração do país,
no raiar do sol ,
na noite mal dormida,
queria fugir de mim
e em mesma me perder...



Hoje, eu queria ver mãos se estendendo,
encontrando-se após longas ausências,
Ou, simplesmente, se unindo em prece.
Eu queria hoje, rezar muito para agradecer...
Pelo sol, senhor dos céus,
pela terra e pela natureza,
pela noite e pelo dia...


Hoje, eu queria te ver chegando,
homem... e ainda criança.
Ver chegando... alguém que partiu,
Hoje eu queria tudo isto,
queria ser tudo para ti,
para me conscientizar de que nada sou.


Talvez hoje... Eu só quisesse alguém
que por mim e comigo chorasse.
Hoje eu queria que estivesses aqui.
Aqui para me ouvir !!
Hoje, não importa a hora,
não importa o dia...
Muitos serão os "hoje",
nos quais: "eu queria"
que estivesses aqui.


LEINECY PEREIRA DORNELES
CASSINO - RIO GRANDE - RSUL